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O Fim da Linha

Caros amigos coxeantes, venho com desagrado informar da impossibilidade de realização da fantástica e mui grandiosa Meia Maratona Mundial para Coxos ou M3C como havia sido comunicado. Não que a Câmara Municipal de Lisboa tenha alegado haver irregularidades de cariz legal (vá-se lá saber porquê… afinal o que é que tem atravessar uma ponte na hora de ponta? Todos o fazem, de carro é certo, mas a coxear é bem mais empolgante e divertido…) ou completado com uma frase célebre que passo a citar: “Foda-se… há com cada maluco!”, simplesmente não dava. Não desmotivado, contactei a Associação Nacional do Coxo Anónimo (ANCA para todos os amigos coxeantes) de forma a ter os apoios necessários para levar esta demanda avante. De nada me valeu, até porque fui informado que a minha inscrição havia sido indeferida por não ser completamente coxo nem manco, mas sim uma miscelânea entre estas duas categorias. Ora, o leitor sabe perfeitamente que eu coxeio como gente grande, mas há quem diga que eu também manco. Injustiça! Fui dar com esta poesia na casa de banho da sede da ANCA (mais ou menos ao pé do desenho da senhora da recepção, aquele em que ela está a fazer coisas menos nobres a um pénis desenhado com caneta barata de cor diferente, demonstrando um amadorismo de primeira apanha, no canto inferior esquerdo da porta de madeira da cagadeira do canto.) e tudo me leva a crer numa conspiração para evitar a minha entrada neste poderoso organismo. Cá vai o que lá estava escrito:
Anda leve, levemente
Como quem passa por mim…
Será coxo? Será gente?
Gente não é certamente
E o coxo não manca assim…
Fui ver e era o Marinho!
Ora, todos na ANCA sabemos que o presidente da instituição prefere cagar ao canto, e tal escrito não poderia ser mais direccionado do que ao próprio presidente. A minha surpresa foi quando me dirigi à sede da MANCA (Movimento de Associados Não Coxeantes Anónimos) e me deparo também com o indeferimento da inscrição. Tentei apurar a causa do indeferimento, mas ninguém quis prestar declarações (eu gritei alto e bom som “Não é para a TVI!” mas eles não acreditaram…). Frustrado e com a volta na tripa, decidi arrear o calhau uma ultima vez só como sinal de despedida. Qual é o meu espanto, quando já sentado na bela da sanita dou com um escrito na porta (ao lado do desenho do senhor da recepção a fazer coisas menos nobres a um pénis desenhado com um lápis de carvão, no centro da porta de contraplacado da cagadeira que fica ao lado dos lavatórios para crianças) que dizia:
Voltei voltei,
Voltei de lá…
Ainda ontem estava em França,
E agora já estou cá!
Não imaginam o meu terror ao ler aquelas palavras. Tudo estava claro como merda para mim… Ora, todos nós sabemos que o presidente da MANCA não caga na sede. Prefere enviar o fax em casa, por questões pessoais. Logo, aquela frase é uma alegoria a qualquer outra coisa que pode até nem ter nada a ver com o facto de a minha inscrição não ter sido aceite. De qualquer das formas, consigo ler naquelas palavras muito mais do que qualquer outra pessoa (talvez pelo meu estado de espírito não ser o melhor ou pelo fétido aroma que aquela pequena bolinha castanha flutuante emana.), palavras rudes e ofensivas contra a minha pessoa. Decidi cagar na ANCA e na MANCA (literalmente) e segui em busca de apoios convincentes para a minha cada vez mais distante causa, a M3C. Contactei com os mais variados municípios que apresentam cursos de água atravessados por pontes, e após me terem dito em quase todos “Por favor aguarde um momento…” (seguido daquelas musicas lindas que fazem chorar as pedras da calçada e que são mais ou menos assim: plim… plim plim plim… plim plim plim plim plim… plim plim plim… Simplesmente lindo!), momento esse que eu aguardei esperançosamente até ouvir uma sensual menina do outro lado que dizia: “O saldo do seu cartão não permite continuar a chamada pretendida!”. “Frustração!”, gritei eu bem alto lá para as 3 da manhã de sábado, quando me informaram que a cerveja tinha acabado. Olhei para o céu e pedi um sinal que me desse forças para continuar com o meu projecto… sinal esse que surgiu sob a forma de uma pomba com diarreia (posso afirmar que foi mais que um sinal, foi um banho de sinais divinos pestilentos que me deram forças para seguir em frente!). Eis então que tenho a mais brilhante ideia… se os problemas são de cariz legal, vamos fazer a maratona onde não haja jurisdição municipal: na fronteira entre Portugal e Espanha! Se toda a gente diz que aquilo não é de ninguém, passa a ser das gentes coxas e mancantes de todos os países. Tudo bem que a ponte onde penso executar a prova não tenha muito mais que 10 metros de comprimento, mas se metermos o pessoal a andar às voltas, dá para prolongar a maratona durante pelo menos 6 minutos. Segui feliz para casa com a ideia a pulular (que palavra bonita… pulular… é como crepitar, saltitar… para além de estranhas são estúpidas! Ninguém pulula em comprimento, nem pulula em altura nos jogos olímpicos… mas fica bem!) na minha mente. Finalmente teria a hipótese de demonstrar o valor da cambada coxeante deste país. Porém, quando chego a casa, uma desagradável surpresa me esperava… o meu cão tinha voltado a cagar no sofá (as cenas que se seguiram são talvez demasiado fortes para serem descritas aqui, mas posso garantir que desde a abertura da Sagres até ao consumo desenfreado de pão com presunto, nenhum animal ficou ferido, excepto eu)! Fechei o cão na gaiola e dei-lhe alpista para o almoço. Piou alegremente a tarde toda, como se a merda que havia feito não passasse de um ponto branco encarquilhado, com nuances de um verde estranhamente brilhante. Enquanto me lambuzava com FashionTV, o som da campainha fez-me saltar do sofá… e por baixo da porta da entrada encontrava-se uma carta. Abri sorrateiramente, como se fosse uma criança a folhear revistas pornográficas (que saudades!). Era a caixa de Pandora… a carta do ortopedista!
Já não era coxo… nem manco… Enterrei-me no sofá e bebi meia grade para afogar as mágoas. Jamais fui a mesma pessoa, posso-vos afirmar. Assim, caros leitores, venho por termo à realização de tamanho evento pelas minhas sinapses criado. Passo o testemunho com tristeza, ao coxo ou manco que o quiser agarrar.
Triste Abraço já não Coxeante
Shuri Kata

Comentários

Anónimo disse…
Ainda bem que por hoje paraste de escrever, porque depois disto, não sei que mais poderias imaginar. Bem por agora tenho de parar, porque os meus dois cães não param de piar, acho que está na hora de lhes dar alpista.
Inteh.......
Marco disse…
NÃO ACREDITO!!! acabei agora de me atirar do 2º andar pa partir uma perna(inclusivé kom fractura exposta!), pa poder participar na famosa meia maratona pa coxos e agora o Sr Shuri diz k ja não se irá realizar!!! tou indigerido!! (ou será indignado?!).. Venho assim por este meio pedir uma idemnização ao Sr Shuri pelos danos físicos que sofri. Se não me puder pagar em dinheiro, entao posso fikar com o cão k come alpista! Ó Shuri, podias ter avisado mais cedo!!! :@
Anónimo disse…
EPAH TU .... EU NEM SEI ... EU OLHO PA TI i ainda vejo um coxo ... pra mim seras sempre o coxo das muletas fixes ... i um patel d nata vai?? =P és o máior * * * =)
pingoxixo disse…
ai ui ai ui ai ui eu xamo me francisco e tu tens uma imaginação sobrenatural... continua axim
braçu

Sou o teu admirador secreto do surikata na linha
fika

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